Usa sandália Prada e bolsa Gucci para almoçar com as amigas em restaurantes badalados ou cheirar cocaína em boates frequentadas por jovens milionários de várias nacionalidades muito à vontade numa Europa globalizada. As madrugadas culminam com sexo casual e ecstasy.
A juventude dourada é desbotada pela descrição de tipos como a amiga obrigada a lidar com o escândalo do pai, traficante de armas. Ou pela colega sempre às voltas com o namorado que faz tráfico de prostitutas do Leste europeu. Elas abusam do Prozac e das plásticas. Eles vão e vêm em Porsches e Ferraris, perpassando endereços tão chiques quanto o bulevar Saint-Germain, a Champs-Elysées e a rua Faubourg-Saint-Honoré. A geografia da alta costura parisiense abriga um submundo de gente fútil e infeliz.
Entre idas e vidas, Hell conhece um jovem e tem um instante de humanidade, mas os dois são desiludidos demais. O relato de Lolita Pille choca pelo excesso de sinceridade. Nada é mascarado. Ela faz uso do cinismo para abalar estruturas sociais seculares, num texto tão ágil e frenético quanto a vida da personagem/autora. Assume que é mundana, indo além de si, do diário, para lançar um olhar crítico, quase antropológico, sobre uma geração privilegiada.
Lolita Pille nasceu em 1982, em Sèvres, na França. Filha de um arquiteto e de uma contadora, estudou no prestigiado Colégio La Fontaine e viveu no mundo abastado e decadente descrito no livro de estreia. A autora escreveu Hell aos 18 anos "num instante de rebeldia" (segundo ela), num esforço de desmascarar a futilidade da geração e da classe social a que pertence. O tom de escracho e denúncia do livro desagradou a inúmeros amigos, que se sentiram devassados por Lolita Pille e a baniram do convívio social. Ela se mudou da luxuosa casa dos pais para um apartamento no bairro do Marais, desistiu das noitadas e deu continuidade à bem-sucedida carreira literária, lançando Bubble gum e Cidade da penumbra (publicados pela Intrínseca). Além disso, escreve crônicas na revista Femmes.